126ª SESSÃO
ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA IX LEGISLATURA.
Em 2 de
dezembro de 1986.
Presidida pelos Srs. André Forster - Presidente, Gladis Mantelli - 1ª
Vice-Presidente e Isaac Ainhorn - 1º Secretário.
Secretariada pelos Srs. Isaac Ainhorn - 1º Secretário e Hermes Dutra -
Secretário “ad hoc”.
Às 14h, o Sr. André Forster assume a Presidência e procede à
verificação de “quorum”.
Não havendo “quorum” para o início dos trabalhos, foi realizada nova
verificação às 14h9min.
O SR. PRESIDENTE: Havendo número legal,
declaro abertos os trabalhos da presente Sessão.
A Ata da Sessão anterior e o ementário do Expediente estão distribuídos
em avulsos.
Em votação a Ata. (Pausa.) Não há “quorum” para a votação da mesma.
O Sr. 1º Secretário dará conhecimento ao Plenário das proposições
encaminhadas à Mesa, hoje, pelos Srs. Vereadores.
O SR. SECRETÁRIO: À Mesa foram encaminhadas
proposições pelos Srs. Vereadores (passando a ler) Getúlio Brizola (1), Mano
José (3) e Teresinha Chaise (1).
É só, Sr. Presidente.
A SRA. PRESIDENTE (Gladis
Mantelli):
A seguir, passaremos ao período de
O primeiro inscrito, Ver. Getúlio Brizola, cede o seu tempo à Ver.ª
Teresinha Chaise.
A SRA. TERESINHA CHAISE: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, poderia dizer nesta hora que estou um pouco gratificada com uma
notícia saída na “Zero Hora” de domingo e no “Correio do Povo” de ontem. É um
tema que deveria ter abordado ontem, mas não foi possível por falta de tempo. A
notícia é a seguinte: “Viamão adotará o sábado inglês já nesta semana”.
Sinto-me gratificada porque sou autora do projeto derrotado soberanamente em
Porto Alegre, que regulamentava a abertura e fechamento do comércio nos sábados
à tarde. Quero dizer aos Srs. Vereadores de Porto Alegre que Viamão adotou o
sábado inglês por iniciativa do Executivo. Por iniciativa do Prefeito Tapir
Rocha foi enviado o Projeto à Câmara Municipal de Viamão, que o aprovou por 15
a 3 votos. Aquela argumentação que usávamos de que em todas as cidades da
Grande Porto Alegre já estava sendo adotado o sábado inglês, que apenas Porto
Alegre estava necessitando desta medida humana, social, que viria a tornar uma
classe sobrecarregada de trabalho, em uma classe mais aliviada, que vive dia e
noite sob a pressão do empregador... Então, tudo que falávamos aqui tinha sua
verdade e razão de ser. Quero, nesta hora, nesta tarde, parabenizar-me com o
Prefeito do PDT, do meu partido, Prefeito Tapir Rocha, que instituiu o sábado
inglês, que instituiu o encerramento do comércio sábados à tarde, que deu
condições de nível a essa classe operosa e operante dos comerciários de terem o
seu dia de lazer. Ao Prefeito Tapir Rocha, que, num projeto humano, justo,
social; ao Prefeito Tapir Rocha, que empunhou uma bandeira libertária em
Viamão, enviando à Câmara o que foi altamente bem recebido; ao Prefeito Tapir
Rocha o meu abraço aqui, da tribuna de Porto Alegre, os meus parabéns.
Sinto-me, neste momento, um pouco recompensada dentro da imensa derrota, mas
entre parênteses, soberanamente, neste Plenário, ainda este ano.
Mas acho, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, que não há nada melhor do
que um dia depois do outro. É uma verdade que nos acompanha ao longo da
história e ao longo dos acontecimentos. Um dia vai ser provado que nós
realmente empunhávamos e que continuamos e empunhar uma bandeira de luta por
uma classe que está reivindicando uma coisa mais social, mais racional e mais
humana para a sua agremiação. Considero-me, neste hora, pertencente à idéia do
Prefeito Tapir Rocha, endossando todo o seu posicionamento, que foi de um
político digno da consideração de seus munícipes e, principalmente, da operosa
classe dos comerciários de Viamão. Ao Prefeito Tapir Rocha, que vai sancionar o
Projeto de Lei, aprovado pela Câmara Municipal, estabelecendo o sábado inglês,
o meu abraço de reconhecimento, porque a idéia brota, a idéia está-se
desenvolvendo e a ressonância dessa idéia, tenho certeza, há de chegar à
Capital de Porto Alegre, há de atingir a sensibilidade da Câmara Municipal de
Porto Alegre, há de atingir, também, a sensibilidade do Prefeito Municipal de
Porto Alegre para com a classe que reúne, só nesta Cidade, noventa mil
empregados. Não quero, neste momento, fazer mau juízo ou assacar contra aqueles
que votaram contra, pois esta Casa, como já disse, é soberana, mas quero apenas
lembrar uma figura que já está também desaparecida daqui e que votou comigo
naquela época: o falecido Ver. Valneri Antunes. Acho que ele haveria de estar,
neste momento, compartilhando aqui comigo dessa nossa pequena alegria, de ver
que no Município vizinho de Viamão foi aprovado um projeto tão importante para
aquelas comerciárias que trabalham o dia inteiro em pé, nos balcões, ostentando
sempre um sorriso para os compradores, para aqueles comerciários que
descarregam caixas e caixas de produtos para quem nem quer comprar, para
aqueles comerciários que nos sábados têm que fazer plantão nas lojas, atendendo
a uma sociedade consumidora e burguesa que vai lá apenas para passear. Então, a
esses comerciários queremos dizer que nós estamos aqui, também vigilantes e
atentos para, na primeira oportunidade, reapresentarmos o Projeto que agora, em
muito boa hora, foi aprovado no Município vizinho de Viamão.
O Sr. Jorge Goularte: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento da oradora.) Eu acho, nobre Vereadora, que as conseqüências do
sábado inglês não vão ser vistas e sentidas agora no início, mas as
conseqüências vão ser mais mediatas. Rivera também está muito feliz, porque
Livramento fez o sábado inglês. Porto Alegre vai receber os compradores de
Viamão, e eu espero que não tenha ainda que conseguir vaga para os
desempregados de Viamão.
O Sr. Hermes Dutra: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento da oradora.) V. Ex.ª me desculpe, mas não posso deixar de fazer
uma pequena ilação: dizem que foram os comerciantes de Porto Alegre que
pressionaram a Câmara de Viamão para aprovar o sábado inglês, porque aí o
pessoal vem comprar em Porto Alegre.
A SRA. TERESINHA CHAISE: Brincadeira tem hora,
Vereador. Acho que os trabalhadores de Viamão têm o direito ao seu descanso,
como os de Porto Alegre.
O Sr. Hermes Dutra: V. Ex.ª me concedeu o
aparte. Gostaria que me assegurasse para eu fazer a seguinte colocação: tenho
profundo respeito pela luta de V. Ex.ª em benefício dos trabalhadores. Agora,
eu não posso deixar passar a oportunidade: eu acho que esta luta é equivocada.
Eu acho que o comerciário precisa é de três coisas: redução da jornada de
trabalho, cumprimento das leis - a lei do banquinho, que V. Ex.ª falou, que não
é cumprida - e salário digno, sem ordem de preferência. Pode ser o 1º em 3º, ou
o 2º em 1º. Dessas três coisas é que eu acho que, efetivamente, o comerciário
precisa. Eu tenho certeza, Vereadora, que comerciário nenhum se recusará a
trabalhar sábado à tarde, no sábado à noite se ganhasse um salário digno.
A SRA. TERESINHA CHAISE: Mas, Srs. Vereadores,
achamos que a medida e adoção da lei que regulamentaria a abertura e fechamento
do comércio aos sábados na Capital, o chamado “sábado inglês”, em nada iria
prejudicar a economia do Município. Quanto à redução da jornada de trabalho,
Ver. Hermes Dutra, isto é uma longa luta que têm os trabalhadores a nível
federal. Nós apenas entramos com um projeto de uma lei municipal para a
abertura e fechamento do comércio. Quanto à jornada de trabalho, os comerciários
já estão há muito tempo lutando e têm, inclusive, Projeto de Lei tramitando na
Câmara Federal, de autoria do Dep. Floriceno Paixão, no qual eu deposito toda a
minha esperança para que seja, realmente, reduzida a jornada de trabalho.
O Sr. Ennio Terra: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento da oradora.) Eu tive o cuidado de verificar, na hora da votação,
que a maioria dos trabalhadores recebe ao meio-dia de sábado. É quando ele vai
para casa para fazer as suas compras. Eu pergunto o seguinte: como é que
ficaria aquele pequeno comerciante que trabalha só ele e a esposa na hora em
que ele vai fazer a alimentação e aonde o trabalhador iria fazer as suas
compras, porque ele só recebe sábado ao meio-dia?
A SRA. TERESINHA CHAISE: Ver. Ennio Terra, nós debatemos
exaustivamente este assunto no ano passado. Durante dois anos nós lutamos com a
Comissão, com a classe patronal e a classe dos empregados. Exaurimos a matéria,
vimos todas as alternativas possíveis. É uma questão de hábito. A habitualidade
do povo em comprar aos sábados à tarde seria transformada, Vereador. O povo, a
sociedade se habituaria a comprar, como foi a época em que o Governo proibiu a
venda da gasolina e a cidade não parou. É uma questão de hábito.
O Sr. Ennio Terra: V. Ex.ª está falando da
sociedade organizada. Agora, o trabalhador que recebe ao meio-dia, sábado, onde
ele vai comprar? Ele vai passar o sábado e o domingo sem comer, porque ele não
teve condições de se organizar durante a semana.
A SRA. TERESINHA CHAISE: Este é um caso específico.
Nós estamos falando no geral. Queremos dizer que nós estamos aqui não só para
prestigiar a decisão do Prefeito Tapir Rocha, no vizinho Município de Viamão,
que adotou o sábado inglês no Município, como estamos dizendo a esta Casa que
retomaremos a nossa bandeira de luta também para Porto Alegre, porque achamos
que Porto Alegre não pode ficar à margem do processo. Nós temos que dar aos
trabalhadores de Porto Alegre, nós temos que dar à classe dos comerciários de
Porto Alegre a oportunidade de uma medida humana, de uma medida social, que
faça com que esses comerciários também tenham o seu direito de lazer, a exemplo
de todas as outras classes.
O Sr. Frederico Barbosa: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento da oradora.) Eu queria lastimar, de público, que V. Ex.ª não
tivesse lembrado deste modesto Vereador para convidá-lo para a inauguração do
quadro de V. Ex.ª, como ex-Secretária de Educação, e para a entrega da Medalha
do Mérito Educacional, que cada ex-Secretário, por força da legislação, deve receber
no ano seguinte. Eu falo também em nome, creio, do Ver. Hermes Dutra, que
também foi titular daquela pasta. Nós fomos esquecidos nos convites para essas
duas solenidades. Eu lastimo profundamente.
A SRA. TERESINHA CHAISE: Esta parlamentar estava de aniversário,
recebendo os cumprimentos desta Casa, junto com o Ver. Luiz Braz, e antecipando
o da Sra. Presidente, que será amanhã. Quero dar uma explicação a V. Ex.ª. Eu
estou surpresa com a sua declaração, porque eu ainda não fui inaugurar o
retrato da galeria da SMEC, e também não tive conhecimento de nenhum convite
para mim sobre a Medalha do Educador. V. Ex.ª, realmente, me coloca numa
posição de surpresa, de perplexidade, porque sei que isso é lei, e realmente
não tive convite nenhum nesse sentido. Eu acho que V. Ex.ª, que me antecedeu,
já deveria, inclusive, ter recebido antes de mim.
O Sr. Frederico Barbosa: Mas eu pensei que de mim
fosse natural esquecer, e eu pensei que de V. Ex.ª não esqueceriam.
A SRA. TERESINHA CHAISE: Eu lamento, mas nós fomos
ambos esquecidos e eu peço da tribuna a V. Ex.ª que, quando receber o convite
para receber a medalha, por favor, me avise, que eu terei o maior prazer em
receber a minha.
O Sr. Frederico Barbosa: Há um detalhe: só receberei
a medalha se V. Ex.ª a receber junto comigo, lado a lado. Caso contrário, não
aceitarei.
A SRA. TERESINHA CHAISE: Pois, neste exato momento,
V. Ex.ª tem a minha procuração. Quando receber o convite, me avise, que irei
com o maior prazer receber a medalha junto com V. Ex.ª Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Wilson Santos, pelo tempo que lhe cede o Ver. Frederico Barbosa.
O SR. WILSON SANTOS: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, faço, inicialmente, duas citações. Primeira: “Pobre pátria de vinte
e tantas zonas que tem no seu ventre o Amazonas e agoniza de fome na cidade.” A
segunda: “Queimem-se as leis que nos fizeram vis, ardam os lenhos doutra
inquisição.” Duas citações de Lauro Rodrigues, do seu livro “Senzala Branca”,
que foi condenado pelo regime da ditadura, que já se extinguiu. Estas duas
verdades, eu quero analisá-las rapidamente. Entendo que, na primeira, tendo o
País em seu ventre o Amazonas e agonizando de fome na cidade, até certo ponto
eu coloco na inabilidade e na inadaptação das gerências públicas nacionais, nos
poderes Executivos que sucedem, que não têm a capacidade de extrair dele aquilo
que ele pode dar para que não estejamos mergulhados na situação que estamos, de
uma série crise de abastecimento interno onde somos obrigados a mendigar pão
sob esse verdadeiro dossel de ouro, que é nosso País. A segunda citação de
Lauro Rodrigues, para que se queimem as leis que nos tornam vis, não chegaria a
esse extremo de pedir essa queima e pedir que ardam os lenhos de outra inquisição,
até porque o momento requer muita calma, o País... Considero a sociedade
brasileira momentaneamente tensionada, traumatizada com as suas aspirações, com
muitas desilusões, com suas emoções represadas como um verdadeiro panelão de
pressão, com uma alta pressão fazendo a pressão sobre as paredes e que, de
repente, se for destampado de inopino, poderemos ter a ordem pública, nossa paz
interna comprometida, porque a paz que temos, da tranqüilidade da ordem pública
para o tumulto a distância é apenas um fio de cabelo.
Veja-se o quadro político atual, todas as desilusões e os descréditos
do nosso povo. Tiveram um alento de esperança que desaguou nas águas
esperançosas do PMDB e do Governo Sarney, e houve uma consagração nas urnas,
poucas horas, depois uma grande desilusão. Por isso estão aí os reflexos dos
episódios de Brasília, de Passo Fundo, do Trensurb, que nos colocam numa
situação em que devemos ter extrema calma. E falar, criticar é uma forma de
tentar ajudar o Governo Federal. Eu quero falar especificamente sobre um órgão
do Governo Federal que é inoperante, que é ineficaz, que é incompetente, e este
órgão se chama SUNAB. A SUNAB está despreparada, gerando tumulto, incitando à
confusão, subvertendo a ordem. Tem um delegado estadual da SUNAB chamado Juarez
Almeida, cidadão totalmente despreparado, num despreparo inadmissível,
demonstrando desconhecer o mais elementar texto de lei, enunciado de lei.
Vejamos, Sra. Presidente e Srs. Vereadores: Lei da Economia Popular, Lei 1.521,
de 26 de dezembro de 1951. No seu art. 2º, inc. I, diz: “É crime.” É, portanto,
criminoso o dono de estabelecimento comercial, seja supermercado ou não, que se
negar a vender mercadoria, seja qual for a quantia, a quem esteja em condições
de pronto pagamento. Ora, esta é a lei. No momento em que queríamos que o País
abandonasse os decretos e que fosse legislado por leis, ficamos tristes ao ver
que, em vez do progresso, em vez de se legislar por leis, existe ainda o
decreto. E, o que é pior, passa o delegado estadual a legislar por portaria,
que não tem valor nenhum, é inócua e geradora de tumulto, pois a portaria
obriga o supermercado, e os donos de supermercados, por ignorância, por
desconhecerem que a portaria não tem valor nenhum, querem cumprir, e o que
acontece? O Sr. Juarez Almeida manda uma portaria para um supermercado, para um
estabelecimento comercial para que venda apenas 1 litro de leite por pessoa,
quando há, nas prateleiras, centenas de litros de leite. Ora, o consumidor tem
direito de comprar 4 ou 5 litros de leite, porque a lei diz que o supermercado
não pode se recusar de vender a quem esteja em condições de comprar a pronto
pagamento. Não pode ele mandar uma portaria dizendo que cada consumidor só pode
comprar 2 quilos de açúcar, quando há 200 ou 300 quilos de açúcar nas
prateleiras. Não pode baixar essa portaria porque ela é ilegal e vergonhosa. É
uma hierarquia infinitamente inferior à lei. Outra: o delegado da SUNAB, sem
demérito nenhum, é o quarto escalão do Governo, legislando por portaria,
dizendo que o consumidor só pode levar seis garrafas de cerveja, quando a Lei
diz que ele pode comprar tantas quantas ele quiser, desde que tenha na
prateleira; que vá comprar apenas uma lata de Leite Ninho. Se o consumidor quer
comprar três ou quatro latas e tem na prateleira, ele tem esse direito. Eu
falava ontem com o Delegado da 9ª Delegacia, o Delegado Gaston, que já
registrou vários casos de agressões físicas, em que o consumidor vai à
prateleira e pega duas latas de Leite Ninho, e a portaria diz que pode comprar
só uma; o consumidor insiste em levar mais e entra em rixa, em luta corporal
com a segurança do supermercado. Estão aí os processos na Delegacia de Polícia.
Então, eu critico para cooperar com o Governo. Eu quero que se mantenha
a ordem pública, quero que se mantenha a ordem interna, não quero que se passe
da paz ao tumulto, porque a sociedade está tensionada e o Governo Federal está
instigando o tumulto, a desordem, subvertendo a ordem, descumprindo a Lei,
rasgando leis. Então, neste caso, o livro “Senzala Branca”, de Lauro Rodrigues,
onde diz “queimem-se as leis que nos fizeram vis, ardam os lenhos doutra
inquisição”, teria lugar, porém nós temos que usar a liberdade com
responsabilidade. O nosso País vive em paz. Não pode a SUNAB, pelo seu
despreparo e pelo despreparo do Delegado Estadual Juarez de Almeida, gerar essa
confusão que está sendo gerada.
Eu apelo ao Governo que dote a SUNAB de competência, de capacidade, de
eficácia e dê um lustro no Delegado, que faça com que ele aprenda as leis, com
que ele faça cumprir as leis. Não dói em ninguém, não é indigno, pois será um
respeito à autoridade constituída, será o respeito às leis, que vai ser o
sustentáculo da ordem interna, vai ser o sustentáculo da nossa paz. Agora, um
órgão federal acirrar ânimo, insuflar a desordem? Eu acredito, Sra. Presidente,
Srs. Vereadores, que é a obrigação do Vereador usar a tribuna para denunciar
isto. E eu vejo, aqui, um amigo meu que é comerciante, e ele sabe que, se
alguém chegar no seu estabelecimento - é o meu amigo gringo, ali - e quiser
comprar 6 garrafas de cerveja, 8, 10, e ele tiver em estoque, ele tem que
vender porque a lei obriga a vender. Se ele não vender, ele é um criminoso,
pelo art. 2º, inc. I, da Lei 1.521, que a SUNAB não conhece, e a SUNAB quer
obrigar o meu amigo comerciante gringo a vender só seis garrafas de cerveja,
dois quilos de açúcar, duas latas de Leite Ninho, um litro de leite, quando ele
compra para o armazém dele 200, 300 litros, e, se chegar alguém e quiser
comprar três litros, está amparado pela lei. Quem não está amparada é a SUNAB,
e quem é despreparado e peço que se prepare é o Delegado Estadual Juarez de
Almeida. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
A SR. PRESIDENTE: Solicito aos Srs. Líderes
de Bancada que introduzam no Plenário o Sr. Marcinho Medeiros, Suplente pelo
PMDB, que irá assumir a Vereança em substituição ao Ver. Caio Lustosa, que se
encontra licenciado.
(O Sr. Marcinho Medeiros dá entrada no Plenário.)
Convido o Sr. Marcinho Medeiros a tomar assento em sua Bancada e
informo ao Plenário que, já tendo S.Ex.ª prestado compromisso regimental nesta
Legislatura, fica dispensado de repeti-lo nesta oportunidade, nos termos do
parágrafo 2º do art. 5º do Regimento Interno.
Declaro empossado o Sr. Marcinho Medeiros e informo que S.Ex.ª deverá
integrar a Comissão de Justiça e Redação.
Apregoamos o seguinte Expediente do Sr. Prefeito Alceu Collares: Ofício
678/GP, devolvendo a esta Câmara Municipal o Processo n.º 01038414.84.8 e
solicitando que o PLE n.º 13/86, Proc. n.º 979/86, depois de examinado pelo
Executivo Municipal, retorne aos trâmites normais.
Com a palavra, o Ver. Jorge Goularte pelo tempo que lhe cede o Ver.
Flávio Coulon.
O SR. JORGE GOULARTE: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, quero agradecer ao Ver. Flávio Coulon pela cessão do seu tempo.
Eu gostaria, nesta
oportunidade, de manifestar uma preocupação que tenho em relação a dois
projetos meus que deverão ser votados amanhã, nesta Casa.
Um trata de criar nas vilas, nos bairros pobres de Porto Alegre os
Centros Integrados de Serviços Essenciais. Estes Centros Integrados que deverão
ser construídos de maneira simples, em sistema de mutirão com a comunidade,
conteriam, em seu bojo, um posto policial, um posto de saúde pública,
sanitários públicos, comunicação e transportes. Estes Centros Integrados seriam
a descentralização da segurança pública e da saúde pública, porque a população
teria um atendimento mais presente junto às suas necessidades mais constantes.
A descentralização, no que tange à segurança pública, seria o atendimento
daquelas situações mais corriqueiras que acontecem nas vilas populares. Sei
muito disso, porque eu morei em várias vilas. E isso poderia ser resolvido de
maneira mais rápida, com um posto policial nas vilas periféricas de Porto
Alegre. No que tange à saúde pública, esses postos de saúde, públicos, seriam
postos avançados, de atendimentos nas situações mais simples, e até mais
graves, por que não? Porque as situações mais simples poderiam ser atendidas
por estagiários das Faculdades de Medicina e Farmácia, e as situações mais
difíceis poderiam ser encaminhadas aos hospitais mais próximos ou ao Pronto
Socorro. Isso seria, a nosso ver, de grande valia para a população
porto-alegrense; de extrema valia, porque são construções - repito - de extrema
simplicidade, sem maiores gastos e com a possibilidade de participação efetiva
do comércio, da indústria, do Lions Club, do Rotary Club, desses clubes que
prestam esses serviços extraordinários à população. Então, Ver. Flávio Coulon,
eu sou muito grato a V. Ex.ª pela cessão deste tempo, para que eu possa expor
ainda hoje, antes do projeto ser posto em votação, esta idéia de se levar à
comunidade um atendimento mais presente, mais próximo, de maneira simples, sem
aparatos. Eu sei que o ideal seria que o Pronto Socorro tivesse várias viaturas
equipadas para atender a comunidade, mas nós temos que ser realistas e entender
que não há meios para isto. Então, a criatividade do político está em
solucionar os problemas com as possibilidades que tem. A possibilidade que
teríamos seria a construção desses pequenos postos de saúde nos bairros, que
não são postos, são centros integrados - Secretaria de Saúde, Segurança
Pública, Comunicação e Transporte. E estas construções poderiam ser feitas em
sistema de mutirão e nós teríamos uma condição de vida melhor da população de
Porto Alegre.
O Sr. Frederico Barbosa: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Gostaria de cumprimentar V. Ex.ª, na véspera em que
seu projeto vem à votação, no sentido em que sou testemunha, caminhando lado a
lado com V. Ex.ª, de que V. Ex.ª persegue este objetivo, objetivo que,
certamente, trará melhoria de condições devida à população. Creio que este
projeto, assim como o outro, que, se não me engano, está para ser votado, que é
da Secretaria da Fiscalização, idéia que V. Ex.ª também “persegue” (entre aspas
e no bom sentido), são maneiras claras e objetivas que V. Ex.ª trará a Plenário
de mostrar se o Executivo tem vontade de cumprir com suas promessas eleitorais
ou eleitoreiras, quando a Câmara coloca, como V. Ex.ª coloca, através de
Projeto de Lei, a oportunidade de se criar um aparelhamento objetivamente,
diretamente vinculado à coletividade de Porto Alegre. Só contrario V. Ex.ª
quando V. Ex.ª fala na criatividade do político: essa ninguém bate o Executivo
atual, pois ele é de uma extrema criatividade, como disse ontem, em meu
pronunciamento, em conseguir completar 11 meses sem apresentar nada à população
de Porto Alegre. Este prêmio V. Ex.ª não poderá ter de minha parte, pois já
está dado à atual administração municipal. Mas V. Ex.ª está desafiando e
mostrando, no bom sentido, que o Executivo tem meios de servir a coletividade.
Basta que, aprovado o Projeto de V. Ex.ª, não se aponha o veto e não se
coloquem teorias absurdas no sentido de se negar aquilo que foi prometido na
época eleitoral e que não foi esquecido até agora. A prova disso está nas
eleições.
O SR. JORGE GOULARTE: Agradeço a V. Ex.ª e penso
que nós, Vereadores, quando éramos considerados do Governo, sem jamais estarmos
no Governo, nós mandávamos ao Executivo pedidos de providências, porque não
fazíamos os projetos por sermos ditos do próprio Governo. Agora, como
pertencemos, vários Vereadores, a partidos opostos ao Governo, e este Vereador
sem partido, tenho que transformar em projetos as idéias que tive no passado;
por isso estou transformando-o. Um outro projeto que, amanhã, se não voltar a
esta Casa, é o projeto que cria a Secretaria de Fiscalização, importantíssima
para Porto Alegre. Porto Alegre precisa ter um órgão fiscalizador. Nós não
sabemos onde ir para reclamar sobre vários assuntos, quanto mais a população. A
diversificação de fiscalizações terminou por diluir a fiscalização e não se
fiscaliza nada porque ficou criado o seguinte quadro: se trata de uma
construção, inicialmente Planejamento; como tem essa construção de ter a
metragem certa também, é SMOV, ainda na Praia de Belas. Se tem uma praça junto,
aí já é SMAM, na Av. Carlos Gomes. O esgoto é no DEP, na Lima e Silva. Se é
problema de água é no DMAE, mas tem de ter o carimbo da fiscalização; aí já é
no 4º andar da Prefeitura. Assim a população faz uma “via crucis” e não
consegue chegar em um único local. O que eu defendo? Um órgão fiscalizador e,
dentro desse órgão, separado por divisões; Divisão SMEC, Divisão SMIC, Divisão
SMOV, Divisão DEP, Divisão SMAM, etc, onde a população se dirija a um guichê,
simplesmente, e faça a sua reclamação sobre o que está lhe importunando, se é
problema de poluição, se é problema de construção mal feita ou clandestina, se
é um problema de fuga d’água, se é um problema de falta de luz, etc., num único
local, e não andar por aí à procura do órgão que tem a competência ou a
incompetência de resolver alguma coisa.
Por isso, Ver. Flávio Coulon, fico muito feliz que V. Ex.ª tenha me
dado esse tempo para que eu pudesse fazer esta preliminar, explicar com mais
detalhes o que vamos votar amanhã, esperando que esta Casa tenha a altivez e a
tranqüilidade de votar algo que venha em benefício da comunidade, de que
possamos em breve tempo dar à população uma condição de atendimento
prioritário, imprescindível, indispensável, mais próximo das suas casas, sem
gastos excessivos, e um atendimento que, se não é o desejável, é o possível. E
o possível já é alguma coisa, porque o ótimo - já dizia um compadre meu - é
inimigo do bom, e o bom já serve, em muitas oportunidades. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (André
Forster):
Com a palavra, a Ver.ª Gladis Mantelli.
A SRA. GLADIS MANTELLI: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, o assunto que me traz à tribuna não poderia deixar de ser outro
que, de modo geral, sempre é a questão da educação.
Há uns 15 dias atrás, talvez um pouco mais, a nobre Secretária da
Educação, Prof.ª Neuza Canabarro, deu uma entrevista para a Imprensa, para
algumas rádios, discutindo a questão não da merenda escolar, mas da refeição
escolar, dizendo que, agora, os alunos da rede municipal não estavam mais
recebendo merenda, algo pouco substantivo, mas que estavam recebendo uma
verdadeira refeição. A partir dessa declaração da Secretária de Educação,
saíram algumas matérias nos jornais da Capital, onde professores e associações
de professores das escolas municipais contestavam a veracidade dessas
informações, dizendo que elas não são verdadeiras, como a notícia que está
aqui: “Professoras questionam o Projeto da Refeição Escolar”. Neste artigo,
elas discutem, dizendo que as crianças continuam comendo em canecas e dentro
das salas de aulas, pois não existem refeitórios, e que todo aquele equipamento
que havia sido comprado, como bandejões, garfos, etc. era para ser recolhido
das escolas - e o foi - para que seja posto nos chamados próximos “brizolões”
que Porto Alegre deverá construir, ou seja, os chamados Centros Integrados.
Então, parece-me que está havendo um sério problema a respeito da Secretaria
de Educação; que faz uma despesa vultosa em propaganda e uma propaganda que é
contestada pelos professores do Município, a tal ponto que hoje a Comissão de
Educação está sendo convocada para uma reunião solicitada pelos professores,
onde desejam discutir a questão da refeição escolar substituindo a merenda,
qual a veracidade disso.
O Sr. Marcinho Medeiros: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento da oradora.) Também sou professor da rede municipal de ensino e
confirmo as palavras da nobre Vereadora. E digo mais: a alimentação básica das
crianças nas escolas do Município é à base de soja. As próprias crianças da
vila onde trabalho sabem que soja é prejudicial ao seu desenvolvimento e
algumas até se recusam a comer, quando vêem soja na comida. Muito obrigado.
A SRA. GLADIS MANTELLI: Agradeço a V. Ex.ª pelo
aparte. A minha preocupação, nobre Vereador, é, realmente, a qualidade da
merenda que está se distribuindo às crianças, mas, em segundo lugar, é aquilo
que está sendo veiculado ostensivamente e que não corresponde à verdade. Então,
nós, como Vereadores, temos que ter a preocupação no sentido de tentar
aproximar aquilo que é verdade daquilo que não é verdade. Durante muito tempo
se deu um voto de confiança à Profa. Neuza Canabarro, lhe dando tempo para
resolver os problemas da SMEC, que tem apenas 15 escolas sob a sua ingerência,
e com estas 15 escolas continuamos veiculando notícias que não são verdadeiras.
Isto nos preocupa muito, até porque o próximo ano está chegando. Esta Casa
aprovou um orçamento sexta-feira, onde na rubrica de alimentação escolar ou de
merenda escolar, mais precisamente, consta a vultosa quantia de um milhão de
cruzados, para um orçamento em educação de 347 milhões de cruzados. De 347
milhões de cruzados destinados à educação, no Município de Porto Alegre, no
próximo ano, apenas um milhão de cruzados serão gastos em merenda escolar. Que
tipo de merenda escolar nós daremos aos nossos alunos? Astronômica quantia. Dá
uma vez, não dá mais. Encerrou.
Mas em compensação, neste mesmo orçamento, nós temos uma quantia
significativa para ser gasta em propaganda, onde nós temos hoje uma propaganda
que diz assim: “Administração Alceu Collares, Professora Neuza Canabarro”. Como
se os outros Secretários também não existissem na Administração Alceu Collares.
Isso é uma preocupação que nós temos. Além disso, os 25% por lei federal que
deveriam constar no orçamento do Município, 100 milhões, para completar esses
25% dos 347 milhões, serão retirados da reserva de contingência. Dezessete
milhões de arrecadação a maior. Então, me parece que estamos descumprindo,
flagrantemente, uma disposição federal do Município de Porto Alegre.
Todas essas discussões que eu trago à consideração dos nobres
Vereadores são para que, realmente, ou nós nos preocupamos com a educação neste
Município, ou vamos fazer o quê? Onde serão gastos os recursos? Com um milhão
de cruzados de merenda escolar? Com uma propaganda que se veicula que nós não
estamos dando mais merenda escolar, mas refeição aos nossos alunos? Parece-me
que o Governo deveria ter um pouco mais de seriedade quando passa essas
informações. Isso é muito perigoso. Nós sabemos que a Prefeitura tem
dificuldades, não estamos negando essas dificuldades, mas o fato de que se
tenha dificuldades não significa que nós tenhamos que torcer a verdade. Isto é
extremamente desagradável. Os alunos do Município estão todos na periferia. São
alunos que têm necessidade de uma alimentação equilibrada e que precisariam não
uma dotação como a que está colocada para 1987, mas uma dotação muito maior
para poderem fazer frente a esta alimentação que se torna extremamente
necessária.
Eu sou uma mulher que acha que a escola não é lugar de assistência
social. Acho que a escola não é lugar de alimentar alunos, mas acho que, em
função da realidade social que se tem hoje, não se tem como fugir disto. Não se
tem como fugir da necessidade de que o nosso aluno, principalmente o aluno da
periferia, precisa comer na escola, e que isto é um dos motivos que o leva à
escola. Por esta razão, eu não posso aceitar que o Município tenha colocado na
sua dotação orçamentária para 87 apenas a quantia irrisória que colocou.
Gostaria de saber como vão fazer a merenda escolar com este volume de recurso.
Esta é uma preocupação, nobre Vereador, Líder da Bancada do PDT, que eu estou
trazendo. Não é só uma crítica, é uma preocupação real, tanto que, hoje, temos
reunião na Comissão de Educação, presidida pelo nobre Ver. Adão Eliseu,
exatamente para discutir este assunto. Talvez, conforme resultado desta
discussão, seja o caso de trazermos a Professora Neuza Canabarro e tentarmos
discutir como aumentar esta rubrica de alimentação escolar dentro do orçamento
já aprovado por nós, nesta Casa, que será absolutamente insuficiente, sequer
para atender 10% dos alunos de rede municipal. É um milhão de cruzados, apenas,
nobre Vereador. Com um milhão de cruzados, nós não daremos merenda escolar para
os nossos alunos da rede municipal, sequer por trinta dias. Então, temos que
encontrar uma solução para este problema, porque não é um problema da Câmara
Municipal, é um problema de Porto Alegre, um problema dos nossos alunos, que
estão afetos a nós. Então, espero que, na reunião que temos agora, às três
horas da tarde na Comissão de Educação, se possa, realmente, encontrar ou
oferecer alternativas de solução ao Executivo para que esta rubrica seja,
efetivamente, dotada de condições para atender às necessidades dos alunos das
escolas municipais de Porto Alegre. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
(A Sra. Gladis Mantelli reassume a Presidência dos trabalhos.)
A SRA. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito é
o Ver. Ennio Terra, que cede seu tempo ao Ver. Cleom Guatimozim.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, a implantação do Trensurb trouxe, de início, a grande esperança de
que o levantamento feito em 73, pelo Geipot, das condições e das necessidades
de instalação de um trem de superfície para atender a Região Metropolitana,
pudesse ser atendido. Entretanto, houve tantos problemas que as necessidades
não estão sendo atendidas e fazem inclusive com que este organismo, que é
subsidiário da Rede Ferroviária Nacional, seja deficitário. O Trensurb deveria
ir até bem mais distante - Novo Hamburgo, São Leopoldo - e atingindo uma
população em que ele transportaria 440 mil pessoas diariamente. Este transporte
de massa, que deveria deslocar-se numa velocidade de 90 km horários, sem causar
poluição, traria a solução de inúmeros problemas, sendo os principais os que
interessam à Cidade de Porto Alegre, como a liberação do tráfego de superfície
ocupado hoje pelos ônibus. Nós temos corredores de transporte que têm hoje o
tráfego de 310 ônibus horários. Eliminaria a poluição e, ainda mais, os
terminais desses ônibus aqui em Porto Alegre, no Centro da Cidade, eliminados
poderiam ser transformados em praças arborizadas, e mais novos pulmões para a
cidade. Não se realizou nenhuma dessas previsões do Geipot, a começar que o
trem, não atingindo Novo Hamburgo e São Leopoldo, não está transportando o
número previsto; hoje, quando ele transporta 120 mil passageiros/dia representa
um recorde. Então, temos o quê? Um transporte de massa que é o trem e um
transporte de massa que são os ônibus e que provêm do mesmo local, não
liberando o tráfego de superfície. Essa liberação é muito importante para a
Cidade e fora da Cidade. Na BR, se constitui também de grande importância, pois
facilita o escoamento da produção. Falhas? Inúmeras falhas na implantação do
trem. Aberrações? Ali, ao lado da gare, na frente do Aeroporto, está situado o
Bairro Humaitá, o qual não tem saída para o trem. Os moradores são separados do
trem por trilhos, cabos de alta tensão, muros... como na Alemanha Oriental e
Ocidental, apenas um muro. Um muro separa os moradores do Parque Humaitá e
nenhuma providência é tomada para que aqueles moradores pudessem dali,
atravessando por um sistema de trens tipo aeromóvel, passando por cima daquele
emaranhado todo de cabos, fios, trilhos e muros, a poucos metros, pegar o
Trensurb para vir a Porto Alegre. Isto não acontece. Os moradores do Parque
Humaitá fazem um longo trajeto de ônibus por dentro do Parque, depois pela
Farrapos, congestionando ainda mais a Farrapos, com tarifas caras. Pergunto: de
que valeu o esforço desta Casa na implantação do trem de superfície? Foi
exatamente o Trensurb, subsidiária da Rede Ferroviária Nacional, que passou no
Município o “conto do pacote”. O Movimento Assistencial de Porto Alegre usava,
no Centro de Porto Alegre, ao lado do Mercado Público, um terreno grande de
estacionamento onde está hoje uma das estações do Trensurb. O Trensurb
precisava daquele terreno e esta Casa autorizou que o terreno fosse trocado por
ações do Trensurb. Essas ações com as quais nos pagaram o terreno nos acenavam
que a linha do trem iria até São Leopoldo e Novo Hamburgo. O Município recebeu
um verdadeiro “conto do pacote”, porque em pagamento de um terreno valioso, de
grande área no Centro de Porto Alegre, recebemos ações frias.
O Trensurb é deficitário. Cento e vinte e cinco mil passageiros ao dia
é recorde. Ele tem transportado 90 mil passageiros. A tarifa é cara, e por
causa de uma pequena moedinha, insignificante moeda que é atirada no chão
(muita gente não se curva para recolhê-la), não é que vão escolher o Trensurb,
pois a tarifa do ônibus anda muito próxima. É uma pequena moeda a mais do que o
preço da tarifa. E os cidadãos, até pelo trabalho de subir nas rampas de
acesso, de passar nas passarelas, subir degraus de escadas, um porque sofre do
coração, o outro porque sofre de varizes, o outro porque tem preguiça, o outro
porque não quer e o outro porque pode pagar, preferem o ônibus. E o trem está
aí nessa situação. No próximo ano, Srs. Vereadores, esta Casa tem tanta
responsabilidade por ser o pólo de atração da Região Metropolitana, por ser um
Município capital de maior população e que lidera a Região Metropolitana; no
próximo ano, esse Município, através desta Casa, deve formar uma Comissão para
esclarecer definitivamente os problemas do Trensurb. E vejam que não digo, Srs.
Vereadores, que ele esteja sendo mal administrado. Não, não digo isso, até
porque administrar miséria não é fácil. E mesmo porque os homens que lá estão -
eu os conheço - são homens de espírito público, dedicados à causa pública.
Estão enfrentando problemas técnicos e o não-cumprimento do Governo Federal do
acordo feito com esta Casa. E na nossa biblioteca há o acordo feito com esta
Casa, do Trensurb com o Município de Porto Alegre. E estamos, então, a pedir ao
Governo Federal. E como os ecos das palavras ditas no parlamento municipal não
chegam ao centro nervoso do Governo Federal, hoje pela manhã passamos um telex,
pedindo ao Governo Federal que tome essas providências, que eram aquelas
apontadas já em 1983, como solução para o transporte coletivo de massa da
Região Metropolitana.
O Sr. Jorge Goularte: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Eu me somo a V. Ex.ª neste pronunciamento, pois penso
que tem toda a razão. Não foi concluído o sistema integrado e Porto Alegre é
que sofre com essa avalanche de erros praticados pela EBTU, pois há um problema
muito sério. Penso que não vai haver essa integração em breve tempo, e o trem é
deficitário e vai continuar assim por longo tempo, até que se estenda a linha,
como V. Ex.ª disse. Por isso, somo-me a V. Ex.ª neste pronunciamento, que tem
toda a razão para fazê-lo.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Eu acolho o aparte de V.
Ex.ª, como um adendo ao meu pronunciamento, esclarecendo, inclusive, alguns
pontos que tinha omitido. Concluo, Sra. Presidente, dizendo que não adianta
criar um sistema paralelo de transporte coletivo, porque, para gastar essa
fortuna que gastamos no Trensurb, então bastaria aumentarmos o número de linhas
de ônibus, que não custaria nada ao Município, nem a nenhum município vizinho
ou da Região Metropolitana. Não custaria nada. Bastaria determinar às empresas
que aumentassem o número de ônibus, ou criar uma concorrência, fazendo com que
se aprimorasse o mercado de transporte coletivo dessa Região. A nossa opinião é
de que a providência imediata deve ser a ligação entre o Bairro Parque Humaitá
e o Trensurb, para que possa haver, inclusive, um desafogo da Av. Farrapos.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito é
o Ver. Elói Guimarães, que cede seu tempo ao Ver. Marcinho Medeiros.
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Sra. Presidente, Colegas
Vereadores. Quero, em primeiro lugar, agradecer ao Líder da Bancada do PDT a
cedência do tempo.
Queremos usar esta tribuna, em primeiro lugar, para cumprimentar a
Administração do Município quando realizou a obra de uma praça na Vila Leão.
Aqueles que conhecem a Vila Leão, no Sarandi, sabem perfeitamente que é uma
vila que tem muitos problemas e, entre estes, a ausência de uma praça. A praça
foi colocada, só que foi urbanizada em cima dos canteiros da Alameda 3 de
Outubro e, embaixo da rede de alta tensão, foram colocados brinquedos infantis
para as crianças brincarem. Nós, ao mesmo tempo em que elogiamos a obra e não
descartamos a necessidade dela, lamentamos e queremos inclusive responsabilizar
a Administração do Município, se algum mal acontecer a alguma criança, com
relação a esta rede de alta tensão que passa em cima dos seus brinquedos. Nós
sabemos, como moradores antigos daquele Bairro, que já houve morte de crianças,
em função desta rede de alta tensão. Portanto, nós queremos lamentar, de
público, a falta de tino administrativo e até de senso social ao colocar o
Poder Público uma praça infantil debaixo de uma rede de alta tensão. Nós não
desconhecemos a necessidade de a Vila Leão ter a sua praça, praça esta ocupada
pelo Colégio Ferreira de Abreu. Então, seria de bom alvitre para a Prefeitura
de Porto Alegre arrumar um novo lugar, próximo ao Colégio, e devolver a praça à
comunidade, isto sim, mas não construir uma praça com balanços, com brinquedos
infantis debaixo de uma rede de alta tensão, quando se sabe que é proibido
construir até próximo de residência esta rede.
O Sr. Jorge Goularte: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Nobre Vereador, eu quero dar os meus cumprimentos a
V. Ex.ª pela preocupação que tem com esta área e dizer que é muito oportuno que
se possa, neste momento, modificar o projeto para que não haja nenhum acidente.
Eu acho que V. Ex.ª fala em boa hora, porque está se iniciando a Praça e
poderia a Bancada do PDT levar essa preocupação de V. Ex.ª, à qual eu me somo
também.
O Sr. Wilson Santos: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) A mim também surpreendeu, porque a Alameda 3 de
Outubro tem um canteiro com 20 metros de largura, que é um canteiro quase que
atípico, e permite, conseqüentemente, construções. Nós fizemos um requerimento
à Administração Municipal para que permitisse a construção naquele local do
Galpão do CTG Valente da Tradição, que V. Ex.ª tão bem conhece, e foi negada
essa autorização sob a alegação de que o local era um local de risco, tendo em
vista a passagem da rede de alta tensão ali por cima. O que estranho é que a
construção de uma praça, onde se coloca em risco a vida das crianças, tenha
sido permitida.
O SR. MARCINHO MEDEIROS: A Vila Leão tem esse
problema, Srs. Vereadores. Nós achamos que esta Casa deva se dirigir ao
Secretário do Meio Ambiente e pedir explicações para ele. Além disso, nós
sabemos que a Vila Leão precisa é de uma regularização do leito do riacho que
atravessa a vila ao meio; esse riacho, a cada chuvarada em Porto Alegre,
transborda e coloca, também, em risco o patrimônio dos moradores da Vila Leão.
A ponte que passa na Zeferino Dias precisa ser desmontada e feita de forma
adequada. Continuam os mesmos problemas. É só cair uma chuvarada e o riacho se
transforma num rio e o rio transborda para a várzea e a várzea é a Vila Leão.
Inclusive o Colégio Ferreira de Abreu não pode ter aulas quando há inundação.
Então, nós achamos que a Vila Leão precisa de obras, e obras que sejam feitas
com mais seriedade; que a praça seja no local que realmente foi destinado na
planta do loteamento para a praça. A retirada da praça deste local para outro
seria o mais apropriado. Mas, infelizmente, para mostrar serviço, porque lá o
Secretário do Meio Ambiente deve ter alguns eleitores, ele urbanizou o canteiro
central da Alameda 3 de Outubro e colocou a praça embaixo da rede de alta
tensão para que as crianças, indo ali, coloquem em risco suas vidas, onde só
vitimaram pessoas.
A Sra. Gladis Mantelli: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Em 1985, quando se fazia a campanha eleitoral, tive
oportunidade de, representando o candidato do nosso partido, Dep. Carrion
Junior, fazer um debate com os moradores da Vila Leão sobre a questão
justamente da praça e da Escola Ferreira de Abreu. Naquela oportunidade,
representava o atual Prefeito Collares a Professora Marlene, e houve um
compromisso formal, tanto da minha parte como da dela, que fosse quem que se
elegesse faria uma luta tenaz para o conserto da Escola Ferreira de Abreu que,
V. Ex.ª sabe melhor do que eu, está caindo, está inundada na parte que está em
cima da Praça, naquele triângulo, está completamente apodrecida, porque inunda
e, na parte que fica atrás da Praça, a escola também não tem funcionamento.
Havia um compromisso formal da Administração do Dr. Alceu Collares de
que aquela escola seria demolida, seriam desapropriadas algumas residências
próximas para que a escola fosse reconstruída e a Praça retomasse o seu lugar
original. Nada disso aconteceu até o presente momento. Nós estamos até o
presente momento sem a reconstrução da Escola Ferreira de Abreu, que é urgente,
porque ela não é uma mera escola, ela é um CAE. Ela dá atendimento
odontológico, atendimento médico, psiquiátrico. Ela é um CAE, um Centro de
Atendimento ao Estudante. Ela tem uma repercussão social enorme para aquela
comunidade, não só para a Vila Leão, como as vilas em torno, pelo número de
crianças que ela atende, e, me parece, não existe uma preocupação maior da
Administração no sentido de solucionar o problema da Vila Leão, quer a nível da
escola, quer a nível desta situação da praça, de ser acomodado ou não, e
criando, ainda mais, estas circunstâncias que V. Ex.ª traz hoje à tribuna. Eu
parabenizo V. Ex.ª pela sua colocação.
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Muito obrigado. Então,
companheiros, eu queria alertar a Casa para que os projetos futuros sejam
melhor examinados pela Administração do Município. Se é para fazer projetos
desse tipo, é melhor então que o Município feche suas portas, para não
continuar colocando em risco a vida da sua comunidade. O Colégio Ferreira de
Abreu é um patrimônio da Vila Sarandi e não só da Vila Leão; foi a escola mais
antiga do bairro, e eu tive, inclusive, a oportunidade de lá completar o meu
ensino primário. Nós sabemos que esta escola precisa ser restaurada, e precisa
ser colocada num outro lugar. Em épocas de campanha eleitorais, muitos
candidatos foram à Vila Leão fazer promessas; inclusive o Sr. Secretário do
Meio Ambiente fez promessas; até fez pedágios, para socorrer as vítimas das
enchentes do Sarandi. Mas nos parece que agora, como um dos responsáveis pela
Administração do Município, nada está fazendo para atender as necessidades
daquele bairro, onde o Sr. Secretário tem um grande laço eleitoral. Parece-nos
que ele está tomando medidas eminentemente eleitoreiras e completamente fora de
responsabilidade. Nós, nesta tribuna, neste momento, queremos responsabilizar
esta Administração, responsabilizar o Secretário do Meio Ambiente por qualquer
acidente que venha a ocorrer com crianças ou até com adultos nesse local. Vejam
bem, companheiros: nós não deixamos de elogiar a obra do ajardinamento; o
ajardinamento do canteiro central realmente está uma beleza. Poderia ter sido
melhor, mas para os recursos que o Município tem, tudo bem. Agora, colocar lá
formas para que as pessoas se reúnam, fiquem paradas ali, para serem vítimas de
acidentes, principalmente crianças, como já houve vítimas no local, resultando
em morte, não é possível. O próprio riacho já vitimou pessoas nas suas
enchentes, e o Município, que já não fazia nada nas administrações anteriores,
continua não fazendo nada na administração atual para resolver o problema. Os
moradores da Vila Leão continuam com os mesmos problemas, mais agravados ainda.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (André
Forster):
Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum, em Comunicação de Líder.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, Srs. Líderes de Bancada com assento na Casa, o PMDB quer transmitir
ao Plenário da Casa que reuniu sua Bancada e decidiu manter o acordo que tem
com o PDT quanto à eleição da Mesa Diretora para os anos de 1987 e 88,
respectivamente. A Direção da Casa passará, em 87, para o PDT e, em 88, para o
PMDB, à luz do que estabelece o acordo político feito entre os dois partidos.
Transmito mais ao Líder do PDT: que a Bancada escolheu para ultimar as
negociações e elaborar a nominata dos candidatos e da chapa, pelo PMDB, o Ver.
André Forster, que já iniciou o seu trabalho em nome da nossa Bancada. É do
interesse do PMDB honrar o compromisso que fizemos com a Bancada do PDT; vamos
transmitir a Presidência da Casa ao Vereador indicado pela Bancada do PDT; o
PMDB espera tão-somente a indicação do nome do Vereador e votaremos com a maior
tranqüilidade porque queremos, desejamos ea vamos manter o acordo feito com o
PDT, o que para nós é um compromisso de honra, e queremos honrar esse
compromisso. Esta era a manifestação da Bancada do PMDB retirada da reunião de
Bancada; manter o compromisso, o acordo e também fazer com que a Casa continue
sendo dirigida nos mais altos interesses da Cidade e do povo porto-alegrense.
Esta nossa breve intervenção para que os Anais da Casa e a imprensa registrem
que o PMDB marcha serenamente para honrar seus compromissos firmados em 1983.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PDS. Ver.
Hermes Dutra, V. Ex.ª tem a palavra.
O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Veja só, Ver. Clóvis Brum: se o PMDB cumprir com as promessas que
fez durante o período eleitoral e a forma como se comporta no Governo, acho que
o futuro deste acordo aqui não é nada promissor.
Mas, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quero referir-me à hipocrisia a
que assistimos hoje, pelo rádio e pela televisão, dos parlamentares do PMDB,
que se elegeram cavalgando o Plano Cruzado, agarrados que nem carrapato em vaca
magra neste plano que foi muito bem idealizado, mas que, como nós dizíamos
nesta tribuna, e o pessoal do PMDB nos desmentia, precisava ser feito e sido
reajustado em alguns pontos no mês de junho ou julho. Mas, para dar a vitória,
para enganar o povo, para carrear votos para o PMDB, nada foi feito, e o
resultado é isso que se vê no dia de hoje: o País caminhando aceleradamente
para a convulsão social, com protestos, e anuncia-se uma greve para o dia 12 de
dezembro. Mas se nós, do PDS, fôssemos fazer 5% do que eles faziam quando
estavam na oposição, este pobre Governo estaria desestabilizado.
Quero referir-me, Sr. Presidente, especificamente, a esta onda de
pseudoprotestos que fazem os parlamentares do PMDB e quero deixar bem claro
que, se os deputados estaduais, deputados federais e senadores do PMDB, eleitos
pelo Rio Grande do Sul na última eleição, não estão satisfeitos com o Governo
Sarney, conforme dizem, que não assumam os seus mandatos no mês de janeiro e
que renunciem, para não dar apoio a este Governo, e que abandonem os cargos e
as tetas largas do Governo Federal que fartamente distribuíram pelo Rio Grande
todo há mais de ano e que até hoje vivem grudados tal qual aquele molusco que
se agarra no rochedo para fugir dos embates da onda. Esse protesto que um e que
outro faz é um protesto frio, é um protesto desavergonhado, é um protesto que
não tem utilidade porque não é sincero, porque protesto se deveria fazer com o
abandono dos cargos do Governo. É muito fácil criticar o Governo pelas medidas
que toma, mas ficar com seus apaniguados, a usufruir das mordomias e dos
empregos do Governo Federal... Quero, também, Sr. Presidente, já que nos deram
essa paulada depois do dia 15/11, fazer um apelo ao PMDB, que é o maior
responsável por esta situação, para que pegue um pouco deste dinheiro que vai
ser arrecadado com os impostos e, segundo o Ministro Funaro, o novo Messias
brasileiro, será em torno de 180 bilhões de cruzados que serão usados, segundo
ele, para amortizar a dívida pública do Governo Federal. Quero, desta tribuna,
Sr. Presidente, fazer um apelo ao PMDB para que use esse dinheiro que está
arrecadando dos porto-alegrenses para amortizar a dívida do Município de Porto
Alegre; que use o dinheiro que está sendo arrecadado no Estado do Rio Grande do
Sul para ajudar a amortizar a dívida do Estado, que também faz parte da dívida
pública e cujos cofres municipais, ou estaduais, estão raspados, com imensas
necessidades para atender as aspirações e os desejos da massa do Rio Grande, de
uma forma geral, e de Porto Alegre, de forma particular.
Se o Governo Federal, isto é, o PMDB, que é quem detém a chave do
cofre, doar 10% do que está arrancando da população com este último pacote,
taxando o açúcar, o álcool, a gasolina, o cigarro, a bebida, o automóvel e o
remédio, mais outras coisas que não lembro, se ele desviar 10% desse dinheiro
que está sendo arrecadado para o Governo Federal, conseguirá pagar quase a
metade da dívida do Rio Grande do Sul. Então, é aí que nós vamos testar a
sinceridade do PMDB ao fazer a justiça tributária. Em vez de centralizar mais e
mais a arrecadação tributária, faça o que pregou nos palanques, para que, mais
tarde, quando um Vereador do PMDB vir a esta tribuna, possamos nós, que estamos
ouvindo, acreditar que efetivamente as promessas do período eleitoral, o
discurso feito nos palanques, são cumpridos quando eles assumem o poder. E não
fique o Governo Federal a achacar o bolso da classe média brasileira! Esta
classe média que, quando timidamente conseguia recuperar o seu poder
aquisitivo, vê-se assaltada no seu bolso, num golpe solerte dado após as
eleições. Enganam-se aqueles que pensam que a classe média é uma parcela inexpressiva.
Ao contrário, os resultados disto serão sentidos pela população de baixa renda,
pois a primeira coisa que a classe média vai fazer é reduzir a sua participação
no chamado mercado informal de mão-de-obra, exatamente de onde as pessoas de
baixa renda tiram o sustento para a alimentação diária. E não é massacrando a
classe média, isto é, fazendo a tábua rasa da coletividade por baixo, fazendo
um ajuste por baixo que vamos, realmente, resolver os problemas da Nação. Se o
trabalhador brasileiro ganha mal, não se pode querer reduzir o poder de consumo
da classe média. Tem que se aumentar o poder do consumo do trabalhador e não a
redução da classe média. Mas tenho esperanças, Sr. Presidente, de que o PMDB
pare um pouco de falar oco, como vem falando, e passe à prática e que consiga
devolver ao Rio Grande um pouco disso que é nosso, que é meu, que é de V.Ex.as,
que é do povo, que está sendo arrancado nesse golpe solerte, repito, dado
depois das eleições. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PCB. V.
Ex.ª tem a palavra, Ver. Lauro Hagemann.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, a Cidade, o Estado, o País estão assistindo a um espetáculo
deplorável de desabastecimento. Não sei se outros Vereadores que me antecederam
na tribuna já trataram deste assunto, mas os jornais, hoje, são fartos em
noticiar a crise de abastecimento que se abate sobre a Cidade. É impressionante
o vazio encontrado nas prateleiras de supermercados, a começar pela carne, que
há muito tempo desapareceu da mesa dos porto-alegrenses: refiro-me à carne
bovina. Mas não é só o problema do desabastecimento: é o problema do furo no
congelamento. É preciso que se diga, com muita ênfase, que o congelamento está
mantido. Apenas maus brasileiros, maus patriotas estão insistindo no furo a
este congelamento. E a quem interessa esta crise? Interessa a setores que visam
a desestabilizar o Governo. Nós não morremos de amores pelo Governo que está à
testa da República, mas é preciso discernir com muita clareza. Esse
desabastecimento que está se verificando não interessa à classe trabalhadora.
Ela está sendo penalizada por isso porque artigos essenciais estão faltando; e
quem está promovendo esse desabastecimento? Isto é que é preciso perguntar. E é
preciso responder com muita clareza: maus brasileiros, maus patriotas que
querem a volta do sistema anterior.
Então é preciso se ter muito claro isto. O PCB, durante a campanha
eleitoral, tinha um “jingle”, que começava assim: “Onde está a comida do povo?”
E concluía: “... cadeia neles!” Cadeia é que está faltando para os maus
brasileiros. Enquanto isto, agridem-se trabalhadores que fazem greve,
agridem-se trabalhadores que fazem manifestações que são infiltradas para
provocarem tumultos, arruaças, quebra-quebra. E esses trabalhadores são
espancados, são feridos, mas os verdadeiros autores do malefício estão muito
bem escondidos. Quero-me referir, especificamente, ao mau serviço que está
prestando a SUNAB neste instante, a SUNAB que tem poder de polícia, que pode
requisitar a Polícia Federal para coibir os abusos que estão se verificando e
que não o faz. Eu me atrevo a dizer que há um conluio entre esses maus
brasileiros e a SUNAB. É preciso que a SUNAB aja com rigor porque ela tem poder
para isto; não faz porque não quer.
Sr. Presidente, Srs. Vereadores, é um desabafo que se faz necessário e
eu recomendo, para encerrar, a leitura do Editorial de hoje do “Diário do Sul”,
no qual o jornalista que o escreveu merece os encômios desta Casa, deste
Vereador, porque analisa a questão com muita propriedade. Eu não me recordo do
título do Editorial do “Diário do Sul”, mas recomendo a todos a leitura desta
peça jornalística publicada no dia de hoje e que situa com muita clareza este
problema. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Frederico Barbosa. Liderança do PFL.
O SR. FREDERICO BARBOSA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, gostaria de fazer uma solicitação ao Executivo Municipal, e esta
vem não só de uma constatação pessoal, como de algumas solicitações que
chegaram ao meu gabinete com referência a uma série de malocas que estão
localizadas hoje no Viaduto Loureiro da Silva. Na verdade, tenho feito
semanalmente o trajeto da subida da João Pessoa em direção à Santa Casa e lá está
uma maloca estabelecida com cama e toda a infra-estrutura necessária para um
acampamento. E hoje tomei conhecimento de que no outro lado, nas imediações do
bar muito conhecido, Bar Bon Ami, existe uma maloca de dimensões acentuadas e
crescendo dia a dia que me parece necessitar de um trabalho do Executivo
Municipal de Porto Alegre.
Sei muito bem que o Sr. Prefeito tem ido à imprensa para explicar,
inclusive, como há pouco, no programa do Flávio Alcaraz Gomes, que estavam
retirando malocas, como foram retiradas as do Arroio Dilúvio para evitarem que,
com as subidas das águas, estes papeleiros que ali estavam fossem atingidos.
Ficou o Município constatando que, das dezoito famílias que foram colocadas, se
não me engano, no Beco da Fumaça, onze delas venderam as casas colocadas à
disposição pelo Executivo Municipal. Mas, no momento em que notamos que nos
viadutos, como no Viaduto Loureiro da Silva, estão proliferando essas famílias,
que, certamente, não estão ali porque querem, estão ali porque não têm outro
lugar, parece que o Executivo Municipal deveria dar uma atenção especial a
estas três ou quatro famílias que ali estão. Mesmo por necessidade absoluta,
não é um local adequado para que nós tenhamos expostos à população cama, fogão,
paredes, meias-paredes construídas tipo tapume, como ali estão e podem ser
observadas, hoje, no Viaduto Loureiro da Silva.
Este é um apelo que quero fazer ao Executivo Municipal, a quem cabe,
necessariamente, atuação nesta área, pois temos constatado que, quando acionada
a Brigada Militar, esta tem sido clara e taxativa no sentido de que dá, apenas
e exclusivamente, apoio à atuação do Executivo Municipal, mas que a obrigação é
da Prefeitura Municipal de Porto Alegre em remover as malocas que surgem, como
estas, no Viaduto Loureiro da Silva. Isto está absolutamente constatado, apesar
das denúncias que recebi de que o telefone posto pela Prefeitura à disposição
da população, quando acionado nestes casos de remoção de malocas, tem
simplesmente informado à população que a Brigada é que deve ser acionada.
Inclusive, fui cientificado de que uma rádio de Porto Alegre colocou no ar um
telefonema feito ao número da Prefeitura Municipal, onde a telefonista, que
recebeu ordens e não toma iniciativas próprias, alegava, no rádio, que a Brigada
Militar é que deveria tomar as providências necessárias.
Portanto, este é um apelo que faço ao Executivo Municipal para que
trate de solucionar alguns problemas, e, entre estes, o das poucas, mas muito
grandes malocas que estão proliferando no Viaduto, nas imediações da Santa
Casa, nas imediações da Salgado Filho, e que estão à disposição de quem quiser,
pois são seres humanos e que têm a obrigação de terem uma atenção do Executivo
Municipal de Porto Alegre. Era isso. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Isaac
Ainhorn em Comunicação de Líder.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, o nosso Partido, o PDT, no curso da campanha eleitoral e desde a
implantação do Plano Cruzado, chamava a atenção para tudo aquilo que poderia
representar de negativo o referido Plano, na medida em que ele se constitui num
prejuízo às classes trabalhadoras, na medida em que o congelamento de preços,
também por nós preconizado, não seria obedecido e que os salários, a exemplo do
que vinha acontecendo na época dos governos militares, novamente teriam
contidos os seus reajustes. Passadas as eleições, o que se observa é este
triste espetáculo, em que não há mais, como muito bem assinalado foi pelo
representante do PCB, Ver. Lauro Hagemann, gêneros alimentícios nas
prateleiras, e os consumidores sendo vítimas de uma escalada de ágio. Uma
simples visita em qualquer supermercado da Capital e deparamos com a triste
realidade da inexistência de qualquer gênero alimentício. A carne de há muito
desapareceu dos açougues e supermercados; o ágio passou a ser uma instituição
oficial e hoje não se encontra mais nada nas prateleiras dos supermercados. Nos
indagamos a quem beneficia esta política que aí se encontra. Mais uma vez os
trabalhadores permanecem com seus salários congelados; a inflação cresce em
índices alarmantes e certamente uma minoria em nosso País se beneficia desta
política. São os velhos tubarões dos alimentos; são os velhos já tão conhecidos
de todos que sempre tiraram vantagem em oportunidades como estas. Embora o
Governo afirme categoricamente que os juros estão controlados, o que se observa
também é uma escalada crescente nos índices e percentuais dos juros cobrados
pelas instituições bancárias. Há, evidentemente, fatos extremamente errados com
relação a esta política econômica que foi aplaudida quando da sua implantação
pelo Sr. Delfim Netto, e, posteriormente, esta mesma política foi mais tarde
condenada pelo Sr. Delfim Netto, que pedia o quê? Exatamente pedia correções ao
Plano Cruzado que se tinha implantado, e nem bem os votos tinham sido contados
e já o Governo Federal noticiava as primeiras medidas de impacto em relação à
correção do Plano Cruzado. Certamente eram aquelas medidas preconizadas pelo
todo poderoso Ministro da Fazenda, à época dos governos militares, e Ministro
do Planejamento, Sr. Delfim Netto.
É esta a realidade com que nos defrontamos e por esta razão o nosso
Partido comparece à tribuna desta Casa para denunciar a inexistência de
alimentos nas prateleiras dos supermercados. Certamente, os estoques que a
Superintendência Nacional de Abastecimento e Preços não localiza em parte
nenhuma, se quisesse, estes estoques já estariam nas prateleiras dos
supermercados.
Mais uma vez, a SUNAB vai-se prestar, isso sim, para autuar e prender
modestos e pequenos comerciantes de mercearias e armazéns da periferia da
Cidade. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Apregoamos ao Plenário o
recebimento pela Mesa de um Substitutivo ao Proc. n.º 2150/86, que autoriza a
alienação de imóveis por compra e venda, através de concorrência pública, e
implanta o programa da Casa da Criança, de autoria do Ver. Clóvis Brum.
Ao mesmo tempo, comunicamos aos Srs. Vereadores, às Lideranças em
especial, que transmitam aos Vereadores, membros das suas Bancadas, que amanhã
haverá uma inversão da ordem dos trabalhos em função da Sessão Solene que se
realiza às 16 horas. Não haverá Grande Expediente e nem Comunicações, iniciando
a Ordem do Dia com a pauta dos projetos que deverão ser discutidos e votados.
OFÍCIOS
- 014/86, do
Senhor Presidente da Comissão de Educação e Cultura desta Casa, Vereador Adão
Eliseu, solicitando o envio à Câmara Municipal de São Paulo, em resposta à
Moção n.º 156/86, de 22.09.86, de autoria do Ver. Cláudio Barroso Gomes,
daquele Legislativo.
- 047/86, do
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Caçapava do Sul, comunicando que
aquela Casa aprovou Voto de profundo Pesar pelo passamento do Vereador Valneri
Antunes, a Requerimento do Vereador Samorin Vargas Dias, daquele Legislativo,
conforme cópia em anexo.
- 084/86, do
Senhor Presidente da Associação Comercial e Industrial de Alegrete, agradecendo
Voto de Congratulações desta Casa, pela passagem de mais um aniversário daquela
Entidade.
- 217/86, do
Senhor Presidente em Exercício da Câmara Municipal de Vereadores de Butiá,
comunicando a aprovação de Voto de Pesar pelo falecimento do Vereador Valneri
Antunes, a Requerimento do Ver. Idelberto Tailor S. Machado, daquele
Legislativo.
- 307/86, do
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Palmares do Sul, comunicando a
aprovação de Voto de Pesar pelo falecimento do Vereador Valneri Antunes, a
Requerimento da Bancada do PDT, com a solidariedade da Mesa e demais Vereadores
daquele Legislativo.
- 1068/86, do
Magnífico Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS,
congratulando-se com a iniciativa do Vereador Aranha Filho pela iniciativa do
Projeto de Lei que visa dar o nome do ex-Reitor daquela Universidade, Professor
Homero Só Jobim, a um logradouro público deste Município.
OFÍCIO-CIRCULAR
- 1005/86, do
Senhor Presidente da Associação Riograndense de Imprensa, agradecendo Voto de
Congratulações de autoria do Vereador Isaac Ainhorn, pela passagem do Dia da
Imprensa.
CARTA
- assinada
pelos Secretários e Presidente, respectivamente, da Sociedad Española de
Socorros Mútuos de Porto Alegre, comunicando a eleição da nova Diretoria para o
período de 1986/87, cuja nominata acompanha em anexo.
CARTÕES
- da Senhora
Presidente da Câmara Municipal de São Francisco de Assis – RS, comunicando a
aprovação de Voto de Pesar pelo falecimento do Vereador Valneri Antunes, a
Requerimento do Vereador Perci da Rosa Pereira, daquele Legislativo, e por
unanimidade dos seus Pares.
- do Senhor Ruy Lerner, Diretor-Superintendente da Companhia Petroquímica do Sul - COPESUL, enviando sentimentos de pesar pelo falecimento do Vereador Valneri Antunes.
CONVITE
-
da
Biblioteca Pública Municipal Érico Veríssimo, órgão da Secretaria Municipal de
Educação e Cultura de Viamão - RS, para a I Feira do Livro daquele Município, a
realizar-se no período de 29.11 a 07.12.86, a partir das 15 horas, no Calçadão
Maurício Cardoso, naquela cidade.
O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar,
convido os Srs. Vereadores para a Sessão Solene, às 16 horas, quando será
entregue o título de Cidadão de Porto Alegre ao Jorn. Cândido Norberto.
Estão levantados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 15h48min.)
Sala das Sessões do Palácio Aloísio Filho, 2 de dezembro de 1986.
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